Amor, Tô Fora
Amor? Tô fora. Resisto enquanto posso, não dou mole — o amor, se quiser, que venha me dobrar. Por que? Porque sei que vou ficar doente, besta, babaca, de quatro... vou perder a fome, o sono, emagrecer (ou engordar).
Amar dói muito, quero, não. Aí, quando menos espero, o amor me pega feito um ladrão. Outra vez. É calor no coração, frio no estômago... e se começo a prestar muita atenção em cores, paisagens, estou sabendo que não tem mais jeito: dancei bonito. Nessa hora, paro de torcer contra, porque ninguém é de ferro, e já que o amor é inevitável, relaxo e gosto.
Quando eu amo, perco a noção do tempo: — Quatro da manhã, já? Tá brincando!
Perco o senso do ridículo: — Claro que sua bota é over, mas é por isso que te amo.
Sou capaz de perder o caráter: — Sua tia não é chata, é um encanto. — Sempre gostei de bife de fígado. — Pagode? Vou com você, claro.
Meu Deus, fico rindo à-toa; toco a escrever poesia, leio Vinícius, exagero na vaidade, espelho, roupa nova.
Quando amo, fico com muito medo de que acabe. Vendo minha alma para manter o sonho. Perco o orgulho. Choro.
E como tudo na vida tem seu ciclo, sei que um dia o vulcão vai serenando. Os caminhos se bifurcam, e aquilo que foi deslumbramento, emoção, pode desaguar na indiferença, o que é uma droga — ou na saudade; que é pior.
Mas, quem sabe, não? E se chegou a vez do milagre? Acredito em almas-gêmeas. Alguém tem que ser feliz, um dia, puxa vida; sonhar não é proibido, é um dever. Que me venha esse amor, sim, que me pegue de surpresa, que me deixe de quatro, que me vire a cabeça, sim. Que me devolva a alegria. Quero para sempre amar você, todas as tias chatas, as comidas intragáveis, perder o sono, falar besteira, dançar até pagode. Quero viver. De novo.